sexta-feira, 27 de março de 2020

A Ruinado Amor


(para você)
Ao longo da vida o atávico Amor se dissolve lentamente. Alimentado pelo cotidiano, vence então o tolerar; uma certa empatia, emaranhada de intimidades e desgostos.
Esse tal verbo Amar causa desconforto. É um miasma disforme que vai se desfazendo em cores  e sabores: amargo, apegado e intragável. Se arrasta pelo chão em raízes, vai sugando a seiva vermelha que resta dos sentidos e do corpo.
Ainda assim, em meio a esse “esmolar migalhas”, resta a Hospitalidade que se desponta soberana. Hospedar o Amar, isso sim é possível, em um quarto desarrumado, mas aconchegante; de janelas abertas e com relicários por todos os lados.  
O tempo amante que passou se transformou em hóspede, Ruina nostálgica de se contemplar.

sexta-feira, 13 de março de 2020

Vida peregrina

A vida é breve. Breve é a vida. Assim como o gosto fulgás do fel quando nos toca a língua; também é o doce que entorpece a serotonina.
Bendito é o tempo que a tudo e a todos desampara e também anima. As horas passam e fatos e acasos vão e vem.
Nada é estático, imutável. A roda do ânimo é assim; outras vezes abaixo outras vezes acima.
Ai de quem pense que nada se sublima.
A arte de se escrever é um descortinar da mente atrevida.

quinta-feira, 5 de março de 2020

Marca Texto

Palavra é mato. É terreno baldio, terra de ninguém.
O texto é como grama, que marcado pelas pegadas dos seres vai se tornando desenho.
Minha escrita é sincera, é bicho que se acasala, é instinto, é mandala; colorida a giz de cera.
Cada espaço é pintado por cores de letras.
Assim é a vida, transformada pelo fato dos acasos.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Azar

A roleta dos acasos me trouxe a vida.
Assim como os objetos e adornos,
a minha insignificância tem seu desejo de pertencimento.
O tempo que perpassa os dias um verme não tem começo nem fim.
Apenas vai se desvivendo ao longo do jogo.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Pulsão

Esta noite o filtro dos sonhos apanhou a morte.
O dia amanheceu mais doce em suas rotinas.
No percurso da estrada o corpo vivente aprecia as incertezas.
O gozo de sentir se dissolve na tarde.
Na madrugada em meu sono profundo fico a espera do desfiladeiro.

terça-feira, 31 de março de 2015

Senda

Na moenda dos teus signos,
sonhos são destroçados ,
pensamentos, extraídos.
O grão que restou da palavra

caiu-me ao colo.

Povoante

Ao recostar a cabeça sob a janela,
congelo a face
e miro em um ponto distante.
O turbilhão se move temendo a existência do tempo.